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Entrevista a um Locutor / Actriz

30.10.2015

Nuno Reis

Sofia Cabrita

Como chegaste ao ilustre mundo das locuções?
Através dos meus programas de rádio. Era uma pequena sardinha no meio dos tubarões… e ainda sou.
Como chegaste ao ilustre mundo das locuções?
Cheguei de dois modos e há mais de 10 anos: através da necessidade de uma locução institucional em espanhol (língua que falava e, alguém que sabia, me pediu) e depois, mais a sério e convosco, através do Filipe Duarte que, numa rodagem de um filme onde nos cruzámos, me disse: "Tu tens voz de locutora, vou dar-te o contacto da Marta Correia!" Uns meses depois, o Pedro Saavedra disse-me: "Cabrita, já falaste com a Céu por causa da tua voz?" "Não, quem é a Céu?" "É colega da Marta Correia." Pronto, achei que tinha mesmo de ser.
És conhecido por ter que género de voz?
A chamada “voz de companhia”. Não consigo passar daí
És conhecido por ter que género de voz?
Hum... Tenho uma voz grave, conhecem-me por isso, creio. Uma voz que, quando comecei a fazer teatro, em 1999, era considerada pelos professores uma voz muito masculina, desadequada e que, com o tempo e as modas, passou a ser uma voz muito feminina, sexy até.
Que género ou estilo de locução gostarias ainda de melhorar?
A “voz de companhia”. Para o resto, sou um caso perdido. Sobretudo no estilo “pode falar mais como as pessoas na rua?”… é que não consigo, mesmo.
Que género ou estilo de locução gostarias ainda de melhorar?
Gostaria de melhorar é dobragem, o lip sync, que muitas vezes temos de fazer nos filmes publicitários importados. Não corre mal, mas fico sempre nervosa. Mas não mostro, ninguém repara.
Qualquer informação sobre ti que poucas pessoas tenham conhecimento?
Podia ter sido um bom jogador de ténis.
Qualquer informação sobre ti que poucas pessoas tenham conhecimento?
Sei (mais ou menos) tocar um instrumento musical...
O teu melhor momento de sempre em estudio até hoje?
O dia em que recebi mais dinheiro de uma vez. Foi há muito tempo
O teu melhor momento de sempre em estudio até hoje?
Felizmente tive muito bons momentos e os melhores são aqueles em que há um entendimento claro entre todos sobre o caminho da locução, em que há espaço para experimentar e em que a minha voz potencia, de facto, o filme, o produto, a ideia. Mas se tiver de destacar os momentos divertidos, as locuções em espanhol proporcionam sempre situações hilariantes em estúdio, há sempre qualquer coisa que faz rir, principalmente para quem está a ouvir... I wonder.
O que representa a Zov?
Para mim representa a possibilidade de conseguir fazer mais trabalhos e, sobretudo, a organização que nunca tive
O que representa a Zov?
As pessoas em quem confio no meu trabalho e as pessoas a quem confio a minha voz - um dos meus bens mais preciosos.
Melhor trabalho no mundo, obviamente depois de “locutor”?
Não existe nenhum “melhor trabalho do mundo”. O trabalho é a pior invenção de sempre
Melhor trabalho no mundo, obviamente depois de “locutor”?
Actriz.
Qual o melhor meio de comunicação? Voz ou imagem? Porquê?
A voz. Se fosse pela imagem, estava bem lixado!
Qual o melhor meio de comunicação? Voz ou imagem? Porquê?
Sou suspeita, mas a voz tem um poder impressionante de chegar aos corações das pessoas, de fazê-las sentir seja o que for, com muita eficácia. O som, a palavra, a pronúncia, o tom, a intenção, a articulação, o timbre, o volume, a distância, a velocidade... É um sem fim de ferramentas num único aparelho. E as pessoas, quando escutam, mudam, podem mudar. Mesmo. Um dia fiz um trabalho de actriz para a Polícia, uma formação para negociadores e tinha de estar barricada em casa (havia mesmo uma casa, com porta e paredes), ameaçando suicidar-me. A prova para os formandos era convencer-me a mudar de ideias e a sair de casa e, na avaliação final, aquilo que destaquei como mais determinante, foi o modo como falavam comigo do lado de lá da porta... Não as palavras que usavam, mas o modo como as diziam.
Quando não estou a gravar a minha voz, estou a ...?
Ouvir música.
Quando não estou a gravar a minha voz, estou a ...?
Fazer teatro, a criar teatro para não me engasgar com o que quero dizer, a mediar em museus de arte contemporânea, a dar formação a adultos em práticas artísticas e a jovens em teatro do gesto, a viajar em trabalho e menos em lazer, a ensaiar teatro com um grupo de refugiados que querem mudar o mundo, a comer em família, a conversar com amigos, a namorar o marido e a filha.
O que é para ti a Voz?
Nada de especial. É a minha. Dizem que é boa… mas ainda me custa a acreditar.
O que é para ti a Voz?
A possibilidade de comunicar com clareza, porque aprendi a dominá-la melhor que ao gesto.
O que te faz Feliz?
Muita coisa lamecha. No capítulo das coisas menos importantes… comer bem, jogar ténis, comprar música, ver o Benfica.
O que te faz Feliz?
Chegar a casa e estarem todos bem e felizes e eu sem mais tarefas para fazer!
Qual o teu maior medo?
O óbvio.
Qual o teu maior medo?
Perder quem mais amo.
Um defeito e uma qualidade?
Um defeito… a preguiça. Uma qualidade… a preguiça
Um defeito e uma qualidade?
Defeitos é mais fácil, mas um que me incomoda ultimamente: não conseguir manter o meu espaço arrumado. Uma qualidade: a pontualidade.
Se pudesses voltar atrás, o que mudarias?
Não faço ideia. Pouca coisa. Não sou de arrependimentos… o que é um bocado parvo, eu sei
Se pudesses voltar atrás, o que mudarias?
Não teria dado ouvidos a quem me disse que nunca poderia fazer teatro com uma voz grave. Essa postura trouxe-me muitos dissabores na época. Parece impossível agora que penso nisso...
Como descreves a tua voz?
Grave. Pouco flexível
Como descreves a tua voz?
Assertiva, grave, articulada, versátil.
Tens algum ícon de voz?
Gosto de ouvir muitas pessoas, naturalmente. O Augusto Seabra, o Rui Morrisson e, claro, cresci com a voz do António Sérgio na cabeça. E ainda bem!
Tens algum ícon de voz?
Não tenho ícones para nada...
Lembras-te da tua primeira locução?
Lembro. Foi no meu primeiro programa de rádio. Tinha 15 anos e falei tão depressa… que nem me lembro do que disse.
Lembras-te da tua primeira locução?
Foi em espanhol, muito longa e muito mal traduzida do português e muito mal paga... Foi um começo difícil!
Na área da voz, que tipo de trabalhos mais gostas de fazer?
Gosto de fazer rádio, claro. Gosto de fazer documentários, mas pagam ridiculamente mal. Gosto de fazer publicidade… como voz de companhia
Na área da voz, que tipo de trabalhos mais gostas de fazer?
O que mais gosto é a publicidade, principalmente quando são bons filmes e bons textos, em que dizemos muito em poucas palavras. E que gostava de fazer e ainda estou à espera de fazer, é uma voz para uma publicidade de carros... Fica o recado!
Que tipo de cuidados tens com a voz?
Encharco-me em medicamentos assim que começo a ficar constipado. Tento não gritar muito no futebol. E mais nada
Que tipo de cuidados tens com a voz?
Sou muito cuidadosa com o modo como a uso no dia a dia, principalmente se tenho de falar muito e/ou para muita gente. Aqueço sempre a voz antes dos espectáculos, protejo a garganta, bebo muita água, não "pigarreio", uso o volume necessário à situação, respiro, respiro, respiro... Às vezes pareço meio doida, sempre a suspirar!
Quem/o que te inspira?
A minha mulher, o meu filho e alguns dos meus amigos
Quem/o que te inspira?
Para o trabalho de locução inspiram-me as outras vozes, vejo muita publicidade portuguesa e estrangeira e ouço rádio, na tentativa de me renovar sempre... Tenho muito medo de engolir uma cassete e entrar naquela cançoneta publicitária que todos (re)conhecemos. O filme pode ser o mesmo de sempre, a frase de companhia também, mas o que faz as pessoas virar a cabeça para a televisão ou não mudar de estação é a voz.
Qual foi a coisa mais bizarra que te aconteceu em estúdio?
Nada de especial. As cenas habituais… gravações em que estão 23 pessoas a olhar para ti, entre agência, clientes, produtora and friends… mas pouco mais do que isto
Qual foi a coisa mais bizarra que te aconteceu em estúdio?
Um cliente que não estava em estúdio aprovar e desaprovar intermitentemente a locução ouvindo através de um telemóvel colocado em frente da coluna... Isto antes dos iphones e companhia, portanto uma qualidade de som muito duvidosa! E mesmo que fosse boa (que nunca seria como a que se ouve em estúdio), é bizarro para um locutor e para todos os envolvidos, passar por um processo assim de avaliação do seu trabalho.
Qual é o teu som preferido?
Ui, perguntas complicadas. Disco… se tiver que dizer hoje, “Sound of SIlver” dos LCD Soundsystem.
Qual é o teu som preferido?
Neste momento o da voz da minha filha Rosa.
Filme preferido?
Filme… depende dos dias, mas um dos meus preferidos de sempre é “O Leopardo” do Viscontti
Filme preferido?
-
Qual foi o melhor conselho que já te deram?
Não tenho por costume trazer frases inspiradoras no bolso das calças. No entanto, n”O Leopardo”, o Burt Lancaster a dada altura diz uma frase que me vem à tola muitas vezes: “É preciso que algo mude, para que tudo fique na mesma”. Agora pensem !
Qual foi o melhor conselho que já te deram?
Respira.
Tens alguma característica que as pessoas ficariam supresas de saber?
Calço o 44,5
Tens alguma característica que as pessoas ficariam supresas de saber?
Tenho carta e não me atrevo a conduzir carro, só mota.

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